2 de set. de 2012

Livro vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

Por uma pesquisa que o Nestablo Neto me demandou, eu pedi aos amigos que trabalham no Ministério do Meio Ambiente, o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Eu consegui ter acesso a eles pela net, mas um querido amigo conseguiu a versão impressa, que só consegui pegar essa semana, e abri a caixa hoje!

O Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção é apresentado em 2 volumes: o Volume 1, que traz os Invertebrados ameaçados de extinção e tem 509 páginas; e o Volume 2, que traz os Vertebrados ameaçados, e conta com 907 páginas. Quis ressaltar aqui o número de páginas para fazer um comparativo: segundo Ruppert e Barnes (1996 - livro Zoologia dos Invertebrados), existiam, na época de publicação do livro, mais de 1 milhão de espécies de animais descritas, sendo que dessas, somente 5% de vertebrados! (Segue imagem comparativa!!)
Figura 1. Proporção comparativa de espécies de animais (Ruppert e Barnes, 1996)
Ou seja, a diferença em número de espécies de animais invertebrados comparados com os vertebrados é ENORME! E por esse quadro comparativo acima, podemos ver ainda que os besouros (Coleópteros) dominam o mundo, seguido das moscas e mosquitos (Dípteros), borboletas (Lepidópteras) e por aí vai...
Daí, vem meu questionamento: Por que, então, o livro vermelho de espécies ameaçadas dos invertebrados é menor do que dos vertebrados, já que a diferença em número de espécies é gritante?
Figura 2. Contracapa do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção - Volume 1

Fiquei matutando essa pergunta e analisando as possíveis respostas desde que fiz a pesquisa para o Neto! Só para matar a curiosidade, a pesquisa era sobre os status de algumas espécies de animais que fazem parte do livro PET! (conheça o blog!! Clique aqui!)
Voltando a questão das espécies ameaçadas, cheguei a duas  (talvez três) possíveis e não excludentes conclusões: 1) o conhecimento de espécies que são topo de cadeia, como onça pintada, lobo guará, águias e etc, são importantes para se ter uma ideia do que ocorre com o ecossistema com um todo! São as chamadas espécies chave. Quando algum distúrbio ocorre dentro da cadeia, em qualquer nível, será sentido no topo da cadeia alimentar, onde os animais citados se encontram! Então, grande parte dos estudos ecológicos e zoológicos são feitos com esses animais. Só que, não necessariamente para esse fim! Daí eu chego a minha segunda conclusão, 2) os vertebrados são animais mais carismáticos, fofinhos, o que leva as pessoas escolherem esses animais para trabalharem aos invertebrados! Afinal, os vertebrados, fofinhos, são mais apelativos e conseguem mais financiamento! Pensem bem, se você fosse de uma empresa que financia pesquisa, e tivesse que escolher entre dois estudos: um estudo sobre onça pintada no pantanal sul-mato-grossense e o outro um estudo com besouros rola-bosta, também no mesmo local, ambos visando a preservação do meio ambiente, qual você escolheria? Tenho certeza que a maioria esmagadora escolheria o estudo da onça! Porque é mais apelativo, é um bicho que coloca medo, mas ao mesmo tempo é carismático (tudo bem que talvez só eu pense assim...), mas é um bicho grande e de grande visibilidade! Só que o besouro rola-bosta também tem seu valor ecológico, dentro do ecossistema! Só que nem todos percebem ou valorizam isso! Nem mesmo os biólogos! E a minha conclusão 3) Justamente por causa da conclusão 2), se tem menos conhecimento de animais invertebrados! Eles não são carismáticos, para a visão da população em geral, a não ser as borboletas, não são grandes, ocorrem em maior número e por isso as pessoas acham que tem demais e que eles não entram em extinção e as pessoas acham que eles "não servem para nada"!!! Por causa disso, as pesquisa com esses animais são menos valorizadas, menos financiadas, e consequentemente, se tem menos conhecimento desses animais!! E que são animais de EXTREMA importância ecológica! A existência deles pode não afetar diretamente as suas vidas, mas pode afetar todo o equilíbrio do ecossistema na qual você, como animal, está inserido. Um exemplo: as libélulas! (ADORO!!) São animais predadores, tanto na sua fase larval quanto na fase adulta! E pasmem: a fase larval se alimenta de larvas de outros insetos, como o do mosquito da dengue, por exemplo!! Sabia disso? Agora você via olhar as libélulas com outros olhos, né verdade?! Outro detalhe é que algumas espécies de libélulas são bioindicadoras de qualidade de água! Se tivesses estudos consistentes sobre esse assunto, talvez não precisaria gastar tanto em controle de qualidade de água, por exemplo... 
Concluindo esse extenso post, digo que o que deveria ocorrer era exatamente o contrário: ter mais investimentos para pesquisas com invertebrados, para se conhecer melhor as espécies, o seu valor ecológico e quais são as espécies ameaçadas! Tenho certeza que essas 500 e poucas páginas do livro iriam aumentar para, pelo menos, o dobro!! Além do que poderíamos conhecer o animal que produz uma substância que poderia curar a AIDS, ou que é um super controle biológico de pragas! Vai saber...

Beijocas a todos!!


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