Antes de começar meu texto, sobre
café, abelhas e Pantanal, quero falar o quanto é engraçado o processo de transformações
das ideias em textos, como esse que você está lendo. Essa semana eu coloquei no
facebook a seguinte frase: “Tudo bem as abelhas me perseguirem na UnB! Normal!
Todas as vezes que tomo café lá, pelos menos umas 3 se aglomeram a minha
volta... De boa! Mas, acontecer isso em casa, é sacanagem, né?!”. Um dos
comentários que tive foi de uma amiga minha, que fez comigo o Curso de Campo do
Pantanal em 2005, Ana Carolina Neves, que falou o seguinte: “E no Pantanal?”.
Quando eu li esse comentário, morri de rir e me bateu uma saudade da época do
curso, das amizades feitas e que até hoje permanecem (como a dela!), dos projetos
e da vivência de campo. Foi a partir desse comentário que tive a “ideia” de
escrever esse texto sobre café, abelhas e Pantanal!
Agora, vamos ao texto! Fui
estudante da UnB (Universidade de Brasília) no período de 2000 a 2007,
ininterruptos, onde fiz minha graduação em Ciências Biológicas e mestrado em
Ecologia. Retornei para UnB no ano passado, em 2012 para começar o meu
doutorado, onde me encontro hoje! Nesse tempo, para sobreviver (sim! Sobreviver!)
café foi (e ainda é) necessário!! Não tem como você almoçar no RU (Restaurante
Universitário) e logo depois ter uma aula, qualquer que seja ela, sem tomar um
café!! Da mesma forma, não tem como você engatar uma aula na outra sem o
bendito líquido negro, carregado de cafeína!! Pois bem! Eu bebia (e ainda bebo)
muito café! Adoro!! E, realmente não consigo estudar sem ele!
Porém, além de mim - ser humano -
outro animal também gosta muito de café. Talvez, não pelo gosto ou aroma do
café em si, mas pelo que vem acompanhando, o açúcar! As abelhas! Na UnB é comum
ver abelhas, daquelas africanas (espécies exóticas e invasoras!), sobrevoando
locais próximos da lanchonete, do lixo, só aguardando uma oportunidade para
beliscar um pouquinho das sobras açucaradas.
Abelha
Apis melifera. Fonte: Fiocruz.
Em um dia, ao terminar o precioso
líquido, e já retornando
do intervalo para outra aula, fui despejar o copo no lixo, que estava carregado
de abelhas (tinha, pelo menos, 5!). Nesse momento, algo aconteceu! Mas, antes
de falar o que aconteceu, quero falar um pouco sobre como devemos proceder
quando estamos rodeados de abelhas? (mesmo que seja só uma!) NADA! Isso mesmo,
NADA!! Por que? Porque se você mexer com ela,
ficar se batendo, ou balançando os braços na tentativa de espantá-la, duas
coisas podem acontecer: 1) você ser picado; 2) você matar acidentalmente a abelha,
e logo em seguida ser perseguido pelo enxame.
Eu sei disso, não porque sou
bióloga, mas por experiência própria! Em 2005, fiz o curso de Ecologia de Campo
no Pantanal Sul Matogrossense, e fiquei um mês no mato! Lá, eu fiz coisas que
quando falei para minha mãe ela ficou desesperada! Por exemplo, nadei no rio
com correnteza, com jacaré e piranha; andei nas margens do rio cheio de
jacarés; fiquei cara a cara com um cervo do pantanal
(bicho lindo, grande, maior que um cavalo, com o detalhe de os machos terem
galhadas (“chifres”)). Mas nada disso me aterrorizou mais do que ser perseguido
por um enxame de abelhas!!
A última atividade do curso era
fazer um projeto individual. Para isso, nós mesmos desenvolvíamos a ideia,
planejávamos os métodos, saíamos para coletar os dados - cada um no seu
quadrado -, analisávamos os dados, escrevíamos o artigo e apresentávamos ao
final da semana. Devido a uma chuva torrencial no primeiro dia, eu tive que modificar
meu projeto: originalmente veria os comportamentos reprodutivos de Jaçanãs (Jacana jacana), mas por conta da chuva,
desisti e mudei para ver ocorrência de galhas
e minas nas folhas de espécies do Cerrado.
Para coletar os dados, eu e mais
alguns amigos que iriam desenvolver trabalho no mesmo local, fomos a uma região
de capões, que é uma forma de vegetação típica do Pantanal, onde bancos de
vegetação arbórea estão dispersos em uma matriz de campo, onde a vegetação
predominante nessa matriz é de gramíneas.
Bom, estou lá eu delimitando meu
quadrat (quadrado) para a coleta, medindo as árvores para coletar em determinada
altura, portando a minha pochete, bolsos cheios com lápis e caderneta de campo,
sozinha no capão. Eis que, na minha frente, na altura da minha testa, vejo um
vulto e escuto um barulho, típico - bzzzzzzz. Pensei - Não vou fazer nada,
porque vai que ela procura um novo rumo e vai embora!. E ela realmente fez
isso, procurou o rumo das minhas costas, bem onde a camisa se levantou, quando
fui abaixar para pegar o podão que estava no chão. Bem nesse momento, ela me
picou! Nunca senti tanta dor! Num impulso, peguei meu boné e bati na pobre da
abelha, que veio a óbito logo em seguida!
Na tentativa de melhorar a dor,
eu peguei a faca, que carregava comigo em minha pochete, e coloquei a lâmina
deitada para ver se melhorava (sabedoria popular!). Fiquei um tempo segurando e
logo voltei ao serviço de podar as folhas. Logo depois, comecei a ouvir vários
- bzzzzzzz - próximo de onde eu estava, mas não dei muita bola no momento.
Quando percebi, eu estava rodeada de abelhas, que viam por todos os lados!!
Pense no desespero dessa pessoa que vos escreve, porque não tinha me recuperado
ainda da dor da primeira picada e estava na iminência de levar mais picadas!!
Pensei novamente comigo - vou ficar tranquila e ver se elas vão embora!. Meio
estúpido meu pensamento. Tão estúpido que levei a segunda picada, na testa!
Essa doeu! Muito!! Foi aí que me vi completamente rodeada e sendo perseguida
pelas abelhas! Bateu o desespero, que larguei tudo no chão, saí correndo, que
nem cena de filme, quando o personagem principal está sendo perseguido pela
onça/tigre/leão (algum felino de grande porte!), e escorrega sem querer e pensa
que chegou a hora de ser devorado, mas se rasteja até se levantar e continua
correndo, sem olhar para trás, até achar um porto seguro. Pois foi exatamente o
que aconteceu comigo! Eu saí correndo, escorreguei na serrapilheira (folhagem
seca, matéria orgânica que fica no chão de florestas), me rastejei no chão, até
conseguir me reerguer, corri mais até sair do capão, achar a camionete - que
nos levou até a região - e entrar nela! UFA!
Sentei no banco da frente,
ofegante, olhando para os lados para ver se nenhuma abelha me perseguiu até o
meu porto seguro. Quando consegui me acalmar, peguei um pouco de álcool que
tinha na caixa de primeiro socorros e passei nos locais onde levei as picadas.
Dois amigos meus apareceram, me viram dentro do carro e eu contei toda a
estória. Eles morreram de rir, obviamente! Me recuperei da dor, e pensei - Poxa
vida, agora tenho que voltar para o mesmo local para resgatar todas as minhas
coisas, desmarcar o quadrat e migrar para outro local, porque lá que não fico
mais! E agora? - Tive que ir, né? Coisas de vida de biólogo de campo! Voltei e
não vi mais nenhuma abelha. Tirei tudo de lá rapidamente e migrei para o outro
lado do capão, pelo lado de fora, obviamente, para não ter problema de
encontrar mais nenhuma abelha! E não encontrei mais!
Por isso, voltando ao episódio do
café da UnB, o que ocorreu foi: fui jogar o copo fora, num lixo cheio de
abelhas sobrevoantes, e eis que uma me dá uma picada no dedão da mão direita!
Pra quê? Por que? Eu não te fiz nada!! - Pensei e falei com meu amigo. Ele
disse - Carol, provavelmente ela é territorial e se viu ameaçada, ou algo
parecido.
Concluindo esse longo texto,
aconselho a todos, portanto, a não mexerem com as abelhinhas! Deixem elas
quietas, por mais que elas te encham bastante a paciência sobrevoando, fazendo
o zunido característico, ou tentando roubar o seu café, como acontece comigo
todas as vezes que vou bebê-lo!
Abraços a todos e até a próxima!!