24 de abr. de 2013

Café, abelhas e Pantanal!


Antes de começar meu texto, sobre café, abelhas e Pantanal, quero falar o quanto é engraçado o processo de transformações das ideias em textos, como esse que você está lendo. Essa semana eu coloquei no facebook a seguinte frase: “Tudo bem as abelhas me perseguirem na UnB! Normal! Todas as vezes que tomo café lá, pelos menos umas 3 se aglomeram a minha volta... De boa! Mas, acontecer isso em casa, é sacanagem, né?!”. Um dos comentários que tive foi de uma amiga minha, que fez comigo o Curso de Campo do Pantanal em 2005, Ana Carolina Neves, que falou o seguinte: “E no Pantanal?”. Quando eu li esse comentário, morri de rir e me bateu uma saudade da época do curso, das amizades feitas e que até hoje permanecem (como a dela!), dos projetos e da vivência de campo. Foi a partir desse comentário que tive a “ideia” de escrever esse texto sobre café, abelhas e Pantanal!

Agora, vamos ao texto! Fui estudante da UnB (Universidade de Brasília) no período de 2000 a 2007, ininterruptos, onde fiz minha graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia. Retornei para UnB no ano passado, em 2012 para começar o meu doutorado, onde me encontro hoje! Nesse tempo, para sobreviver (sim! Sobreviver!) café foi (e ainda é) necessário!! Não tem como você almoçar no RU (Restaurante Universitário) e logo depois ter uma aula, qualquer que seja ela, sem tomar um café!! Da mesma forma, não tem como você engatar uma aula na outra sem o bendito líquido negro, carregado de cafeína!! Pois bem! Eu bebia (e ainda bebo) muito café! Adoro!! E, realmente não consigo estudar sem ele!

Porém, além de mim - ser humano - outro animal também gosta muito de café. Talvez, não pelo gosto ou aroma do café em si, mas pelo que vem acompanhando, o açúcar! As abelhas! Na UnB é comum ver abelhas, daquelas africanas (espécies exóticas e invasoras!), sobrevoando locais próximos da lanchonete, do lixo, só aguardando uma oportunidade para beliscar um pouquinho das sobras açucaradas.

Abelha Apis melifera. Fonte: Fiocruz. 


Em um dia, ao terminar o precioso líquido, e já retornando do intervalo para outra aula, fui despejar o copo no lixo, que estava carregado de abelhas (tinha, pelo menos, 5!). Nesse momento, algo aconteceu! Mas, antes de falar o que aconteceu, quero falar um pouco sobre como devemos proceder quando estamos rodeados de abelhas? (mesmo que seja só uma!) NADA! Isso mesmo, NADA!! Por que? Porque se você mexer com ela, ficar se batendo, ou balançando os braços na tentativa de espantá-la, duas coisas podem acontecer: 1) você ser picado; 2) você matar acidentalmente a abelha, e logo em seguida ser perseguido pelo enxame. 

Eu sei disso, não porque sou bióloga, mas por experiência própria! Em 2005, fiz o curso de Ecologia de Campo no Pantanal Sul Matogrossense, e fiquei um mês no mato! Lá, eu fiz coisas que quando falei para minha mãe ela ficou desesperada! Por exemplo, nadei no rio com correnteza, com jacaré e piranha; andei nas margens do rio cheio de jacarés; fiquei cara a cara com um cervo do pantanal (bicho lindo, grande, maior que um cavalo, com o detalhe de os machos terem galhadas (“chifres”)). Mas nada disso me aterrorizou mais do que ser perseguido por um enxame de abelhas!!

A última atividade do curso era fazer um projeto individual. Para isso, nós mesmos desenvolvíamos a ideia, planejávamos os métodos, saíamos para coletar os dados - cada um no seu quadrado -, analisávamos os dados, escrevíamos o artigo e apresentávamos ao final da semana. Devido a uma chuva torrencial no primeiro dia, eu tive que modificar meu projeto: originalmente veria os comportamentos reprodutivos  de Jaçanãs (Jacana jacana), mas por conta da chuva, desisti e mudei para ver ocorrência de galhas e minas nas folhas de espécies do Cerrado.

Para coletar os dados, eu e mais alguns amigos que iriam desenvolver trabalho no mesmo local, fomos a uma região de capões, que é uma forma de vegetação típica do Pantanal, onde bancos de vegetação arbórea estão dispersos em uma matriz de campo, onde a vegetação predominante nessa matriz é de gramíneas.

Bom, estou lá eu delimitando meu quadrat (quadrado) para a coleta, medindo as árvores para coletar em determinada altura, portando a minha pochete, bolsos cheios com lápis e caderneta de campo, sozinha no capão. Eis que, na minha frente, na altura da minha testa, vejo um vulto e escuto um barulho, típico - bzzzzzzz. Pensei - Não vou fazer nada, porque vai que ela procura um novo rumo e vai embora!. E ela realmente fez isso, procurou o rumo das minhas costas, bem onde a camisa se levantou, quando fui abaixar para pegar o podão que estava no chão. Bem nesse momento, ela me picou! Nunca senti tanta dor! Num impulso, peguei meu boné e bati na pobre da abelha, que veio a óbito logo em seguida!

Na tentativa de melhorar a dor, eu peguei a faca, que carregava comigo em minha pochete, e coloquei a lâmina deitada para ver se melhorava (sabedoria popular!). Fiquei um tempo segurando e logo voltei ao serviço de podar as folhas. Logo depois, comecei a ouvir vários - bzzzzzzz - próximo de onde eu estava, mas não dei muita bola no momento. Quando percebi, eu estava rodeada de abelhas, que viam por todos os lados!! Pense no desespero dessa pessoa que vos escreve, porque não tinha me recuperado ainda da dor da primeira picada e estava na iminência de levar mais picadas!! Pensei novamente comigo - vou ficar tranquila e ver se elas vão embora!. Meio estúpido meu pensamento. Tão estúpido que levei a segunda picada, na testa! Essa doeu! Muito!! Foi aí que me vi completamente rodeada e sendo perseguida pelas abelhas! Bateu o desespero, que larguei tudo no chão, saí correndo, que nem cena de filme, quando o personagem principal está sendo perseguido pela onça/tigre/leão (algum felino de grande porte!), e escorrega sem querer e pensa que chegou a hora de ser devorado, mas se rasteja até se levantar e continua correndo, sem olhar para trás, até achar um porto seguro. Pois foi exatamente o que aconteceu comigo! Eu saí correndo, escorreguei na serrapilheira (folhagem seca, matéria orgânica que fica no chão de florestas), me rastejei no chão, até conseguir me reerguer, corri mais até sair do capão, achar a camionete - que nos levou até a região - e entrar nela! UFA!

Sentei no banco da frente, ofegante, olhando para os lados para ver se nenhuma abelha me perseguiu até o meu porto seguro. Quando consegui me acalmar, peguei um pouco de álcool que tinha na caixa de primeiro socorros e passei nos locais onde levei as picadas. Dois amigos meus apareceram, me viram dentro do carro e eu contei toda a estória. Eles morreram de rir, obviamente! Me recuperei da dor, e pensei - Poxa vida, agora tenho que voltar para o mesmo local para resgatar todas as minhas coisas, desmarcar o quadrat e migrar para outro local, porque lá que não fico mais! E agora? - Tive que ir, né? Coisas de vida de biólogo de campo! Voltei e não vi mais nenhuma abelha. Tirei tudo de lá rapidamente e migrei para o outro lado do capão, pelo lado de fora, obviamente, para não ter problema de encontrar mais nenhuma abelha! E não encontrei mais!

Por isso, voltando ao episódio do café da UnB, o que ocorreu foi: fui jogar o copo fora, num lixo cheio de abelhas sobrevoantes, e eis que uma me dá uma picada no dedão da mão direita! Pra quê? Por que? Eu não te fiz nada!! - Pensei e falei com meu amigo. Ele disse - Carol, provavelmente ela é territorial e se viu ameaçada, ou algo parecido.

Concluindo esse longo texto, aconselho a todos, portanto, a não mexerem com as abelhinhas! Deixem elas quietas, por mais que elas te encham bastante a paciência sobrevoando, fazendo o zunido característico, ou tentando roubar o seu café, como acontece comigo todas as vezes que vou bebê-lo!

Abraços a todos e até a próxima!!

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